quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A MULHER E O CAPITALISTA

O mundo vive, nos últimos tempos, a era das minorias. Grupos de pessoas com características específicas e que sofrem discriminação histórica de uma sociedade essencialmente egoísta ganham espaço e poder. Nada mais justo que esse movimento conquiste o comprometimento com a idéia da busca pela igualdade e respeito a todos os indivíduos, independentemente de credo, raça, opção sexual, limitação física, etc.

Vistos de fora, esses movimentos aparentam estar refletindo o repentino espírito fraterno e leal da nossa sociedade com pessoas que foram desrespeitadas em seu mais básico direito: o de ser igual. No entanto, na minha visão, ao contrário do que parece, noto que várias pessoas e organizações utilizam esses movimentos para o fortalecimento da própria imagem, com o objetivo de aumentar os ganhos financeiros.

Isso tanto é verdade que, em qualquer palestra sobre administração, governança corporativa ou marketing (empresarial ou político), a responsabilidade social e ambiental é colocada como um diferencial para sensibilizar pessoas e conquistar clientes. É um verdadeiro ufanismo pela imagem do "bom moço".

É motivado por tudo isso que me arrisco a tratar sobre um assunto extremamente delicado. Falo sobre as conquistas alcançadas pelas mulheres, a maioria delas atribuída ao movimento que se costuma chamar de “feminismo”. Meu intuito é levantar a questão sobre quem efetivamente teve o interesse de promover todas as mudanças que levaram e estão levando as mulheres a conquistar cada vez mais espaço na sociedade.

Da mesma forma como acontece com os outros movimentos dos grupos reconhecidos como “minorias”, o feminismo também padece de uma falha autoral. Explico: as conquistas, na minha opinião, não tiveram como combustível principal a força gladiadora das mulheres. Ao que parece, tudo não passaria de um interesse puramente econômico do capitalismo.

Vamos analisar mais detidamente. Começo realçando que as justas conquistas das mulheres aconteceram, principalmente, em sociedade conhecidas como capitalistas ou, no mínimo, naquelas que se poderiam denominar semi-capitalistas (as que mascaram seus interesses capitalistas, sob a capa de outro regime econômico/social).

É histórico que a mulher, antes totalmente presa ao lar, começou a participar da vida produtiva propriamente dita, a partir da primeira grande guerra, e se firmou definitivamente com o advento da segunda guerra mundial. A ausência de mão-de-obra masculina, especialmente nos países mais envolvidos na guerra, fez com que as mulheres fossem chamadas para fazer girar as máquinas do capitalismo que estavam fadadas à ociosidade, sob o argumento de que dariam sua contribuição à pátria.

Como todos sabem, com o fim da II guerra, as mulheres, habituadas à recente vida produtiva e remunerada, não quiseram voltar para suas atividades domésticas e decidiram ficar em seus postos. Daí fortaleceu-se o movimento de liberdade da mulher. Grandes mulheres foram elevadas à posição de verdadeiras líderes dos direitos femininos. Parece que, sem elas, as mulheres nunca teriam conseguido chegar à posição em que se encontram.

Voltemos à análise e imaginemos o tamanho do contingente de mão-de-obra existente no meio do século passado, antes e depois da guerra. Não é difícil constatar que, com a entrada repentina de um grande número de mulheres no mercado de trabalho, esse contingente aumentou sensivelmente. Pensando na lógica da lei econômica da oferta e da procura, fica fácil entender como o capital foi beneficiado.

Aliado a tudo isso, A convocação da mão-de-obra feminina tirou da ociosidade um contingente significativo, que veio elevando a massa potencial da “força de mão-de-obra marginal” (aquela que está desempregada e que serve de contraponto para a regulação dos valores dos salários).

As pessoas que tenham mais de 40 anos lembram que, quando crianças, somente seu pai trabalhava e sustentava a família com apenas um salário. Naquela época, a oferta era compatível com o valor do salário de sustentação da família, mesmo quando a prole era elevada. Na prática, vejam só o que aconteceu com o decorrer do tempo: as mulheres entraram no mercado de trabalho, dobraram a procura por emprego e o que aconteceu? O SALÁRIO CAIU PELA METADE.

Agora, somente com o salário do pai e da mãe, juntos, é que uma família pode ser sofrivelmente sustentada. Eu fico aqui a perguntar: Quem ganhou com isso? Tenho certeza de que não foram os homens nem a família. Quanto às mulheres, eu também tenho as minhas dúvidas. Porém, que os donos do capital ganharam muito mais do que estavam ganhando, disso eu tenho total certeza.

Como podemos notar, o capital aumentou o contingente de trabalho, reduzindo sensivelmente seus custos, combustível mais do que suficiente para promover o desenvolvimento e a acumulação de mais riqueza, em benefício daqueles que o controlam.

É por tudo isso que eu costumo dizer que o feminismo é um movimento que prosperou muito mais pelo claro e lucrativo interesse dos capitalistas, que pelo louvável esforço das mulheres. Cabe a frase: “o feminismo é muito menos feminino que capitalista”.

HERIBERTO GADÊ DE VASCONCELOS
23.12.2009