O
nosso País, há algum tempo, em matéria de gestão política, é o mesmo. Temos a
enganosa ideia de que algo mudou, mas logo nos deparamos com alguns quadros já
pintados no passado. Vários partidos e políticos se alternam prometendo
mudanças e mais mudanças e, até agora, muito pouca coisa mudou. Continuamos com
os mesmos problemas políticos, econômicos, e de qualidade no serviço público. Em
determinada ocasião o povo brasileiro acreditou que era possível dar uma
guinada em tudo que estava posto. A mudança para um governo que se situava em
uma posição menos liberal e contra todos os desmandos que aconteciam até aquele
momento parecia ser a única solução.
Passado
o tempo, depois de idas e vindas, notamos pouca diferença nas atitudes. Recentemente
os brasileiros foram bombardeados por notícias de corrupção, como, aliás, já
sabia existir desde o descobrimento desse País. A revolta da população, agora,
não é por que acusam e punem integrantes de um segmento político. A revolta é
que o segmento alvo dessas denúncias tinha sido o mesmo que todos acreditavam
agir de forma completamente diferente dos demais grupos políticos que dominaram
os destinos do País por tanto tempo. O sentimento é de que voltamos à “estaca
zero”.
Acredito
que, no desejo desesperado de um país melhor, somos levados a acreditar que as
soluções mirabolantes serão a nossa libertação de tudo de errado que nos afeta.
O que era, para nós, a redenção, se transforma no que sempre combatemos. É
incoerente, mas é o que vemos por aí. Ora, quem é bandido ou quem é mocinho? A confusão
e a alternância entre essas duas figuras tem sido algo constante em nossos
julgamentos.
Então,
o que nos faz cometer esses equivocos? O principal motivo, na minha opinião, é
a ausência de tempo e cuidado para o aprofundamento da análise sobre as
soluções postas à mesa. Vejam que o brasileiro é reconhecido como um povo que
lê muito pouco. Segundo a ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, o
brasileiro está colocado em 27º lugar entre os 30 países pesquisados. Essa
situação, que repercute nos índices brasileiros de educação e prejudica a
formação crítica de opinião, talvez, seja a principal causa para as análises
tão superficiais sobre tão importantes assuntos.
O
outro problema, consequência da falta de análise de cenário, é o da falta de
equilíbrio que as nossas decisões eleitorais e políticas proporcionam. Somos
levados a pender totalmente para um lado, sem considerar que um poder absoluto
permite que pessoas e grupos cometam absurdos e que as conveniências das
pessoas que integram esse poder sejam atendidas de forma exagerada ou, muitas
vezes, indecente. Ninguém é necessariamente é anjo ou demônio. O equilíbrio é a
solução, sempre.
Vemos,
assim, pessoas sendo levadas a seguir o movimento da massa, assim como fazem as
águas do rio. Porém, nós não podemos nos deixar levar como essas águas.
Precisamos estar atentos para que a emoção não tome conta das nossas vidas e
nos faça enveredar por caminhos cuja volta é mais difícil que a ida. Quando
estamos insatisfeitos com uma determinada situação, queremos resolvê-la de
forma rápida e absoluta, o que não é possível, principalmente, quando esse
problema é fruto de toda uma história que firmou cultura. Se puxarmos pela
memória lembraremos de alguns movimentos como: “abaixo a ditadura”, “diretas
já”, “os fiscais do Sarney”, “caçador de marajás”, “fora Collor”, “Lula-lá”,
“fora PT”, “fora Dilma”, “fora Temer”, “pela intervenção militar”, além do
“somos todos Moro” e “eu apoio o MP”, entre outros.
Em
todas essas ocasiões nos posicionamos, quase que cegamente, pelo som de um
grupo de pessoas, bradando palavras de ordem que foram construídas sabe-se lá
por quem e com qual interesse. Nesses momentos, na ânsia de vermos atendidos
nossos imediatos desejos, bradamos alto, já que todos gritavam o mesmo. Muitas
vezes nem avaliamos quais repercussões que adviriam de tão exacerbado e
pulsante comportamento.
Minha
santa avó já dizia que “descer uma ladeira pode ser muito mais perigoso que subi-la.
A velocidade com que se desce, principalmente quando embalado pela multidão que
nos empurra, faz com que a queda no final da ladeira seja quase que inevitável.
E tem mais uma questão, que não acontece na descida lenta e gradual, é que não
se consegue apreciar a paisagem que existe pelos arredores. Quando descemos
velozmente, e descer é muito fácil, deixamos de registrar o que está em volta,
o risco que existe no final da ladeira e, especialmente, o tamanho dos
obstáculos que teremos que enfrentar quando tivermos que subir novamente.
Precisamos
aprender com os nossos erros. Devemos estar atentos a tudo que acontece em
nossa volta, sem paixões nem exageros. O ato de “separar o joio do trigo” é
fundamental para que não nos arrependamos por termos dado apoios incondicionais
a esse ou àquele segmento. Como disse, tudo na vida tem, obrigatoriamente, dois
lados, o bom e o ruim, e é primordial que consigamos distinguir qual é o tamanho
e os efeitos causados por um e pelo outro.
Tenho
convicção de que é o apoio cego que gera e concede, indevidamente, poderes
absolutos. Sendo assim, cuidado para não alimentar a cobra que poderá vir a
mordê-lo. A cobra é importante para o equilíbrio do nosso ecossistema e precisa
ser preservada, porém, precisamos estar atentos aos controles que tivermos
sobre ela, pois isso é o que fará com que ela não nos domine nem nos morda... É
fundamental ter em mente que “nem tudo que parece ser, realmente é”.
HERIBERTO GADÊ
10/01/2017