sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

PEC 241 - "QUE DIABO É ISSO?"

Hoje, o alvo de toda a discussão pública passa pela tão falada ou mal falada PEC 241, que agora se denomina PEC 55, denominação adotada pelo Senado Federal, onde se encontra em tramitação.

Mas, o que é mesmo o diabo dessa PEC? Falando de forma bem simples, é um instrumento de alteração da nossa constituição (Proposta de Emenda Constitucional), que tem por objetivo central determinar que, durante vinte anos, a despesa pública não cresça acima da inflação. As despesas, a partir da aprovação da PEC, só poderão ser atualizadas na medida da inflação ocorrida no ano anterior.

Tudo isso tem gerado uma discussão em torno do real motivo dessa PEC e as consequências que poderão advir. Uns se posicionam de forma prática e outros se posicionam de forma política. Eu digo que nem tanto nem tão pouco. Não se pode encarar um orçamento público como é conduzido um orçamento privado. Isso é fato. Na área pública existem fatores outros que uma empresa não convive e que poderiam, na área privada, ser ultrapassados sem maiores traumas sociais. Um exemplo disso é a redução de custos por intermédio da redução de postos de trabalho, que a iniciativa privada faz, na medida da necessidade financeira das empresas.

No caso da PEC 241 temos de verificar se a medida se assemelha à que seria adotada na área privada. Como os efeitos dessa Proposta trarão repercussões ao longo do tempo, sou levado a crer que ela tem características de uma medida de gestão pública, já que o corte abrupto de despesas traria grandes e imediatos problemas para a sociedade, mais até do que quando adotado de forma lenta e gradual.

A PEC 241 traz um componente de aparente manutenção da situação de gastos. Digo aparente por entender que a vinculação a índices inflacionários do ano anterior, por si só, já determina redução gradual dos gastos, com impacto, principalmente, nas atividades essenciais. Sobre essas áreas, como saúde e educação, a PEC daria um fôlego até 2018, o que acho pouco.

Também é verdade que os gastos da previdência estarão fora do alcance da PEC 241 e isso pode vir a inviabilizar ou comprometer ainda mais o custeio de áreas públicas sensíveis, caso a previdência não seja tratada adequadamente. Outro fator preocupante em um congelamento como esse é a eventualidade do surgimento de problemas graves no País, como pode ser o caso de uma epidemia ou outro desastre de grandes proporções, o que exigiria uma natural elevação dos gastos para atender pontualmente aquela demanda.

Existe uma linha de opinião que afirma que o déficit não é ocasionado pelos gastos públicos e sim pela queda das arrecadações. Ora, eu perguntaria: sim... e aí? Continuamos gastando o que não temos e esperamos o reaquecimento da atividade econômica? O que você faria em sua casa? Continuaria com o volume dos seus gastos no mesmo patamar e ficaria aguardando um novo emprego que lhe proporcionasse renda compatível com esses gastos?
Alguns outros poderiam elencar pontualmente soluções, como redução das isenções fiscais, redução de benefícios funcionais absurdos e altos salários, ajustes no pagamento dos juros de dívida pública, entre outras. Porém, apesar de necessárias e urgentes, a solução do problema não se resolveria somente por aí, até porque a adoção de medidas nessa direção traria outras consequências de cunho jurídico e social.

É de se ponderar, ainda, o prazo de 20 anos, que acho por demais extenso e pode vir a acarretar problemas para a ampliação de programas sociais e de distribuição da renda que, no Brasil, já é bastante desigual. O ideal seria que a ordem fosse o contrário do que está previsto (20 anos com revisão em 10 anos), ou seja, 3 ou 5 anos, com eventual prorrogação após vencido esse período, se as condições existentes justificassem a medida.

Bom, isso faz com que sejamos contra a PEC 241? Os que se manifestam contra têm seus argumentos e eu respeito cada um deles. Não obstante, diante da situação financeira ou fiscal que o nosso País enfrenta, entendo que não podemos nos sentar aguardando a “morte chegar”. É preciso fazer alguma coisa.

Para entender melhor, temos sempre que voltar ao problema central: como pagar os gastos? Nesse ponto, acredito que a PEC é positiva, na medida em que irá frear o gasto público (que nos últimos anos vem crescendo bem acima da inflação) favorecendo ao atingimento do equilíbrio fiscal. O mais grave nisso é constatar que, apesar de todo esse crescimento real da despesa pública, há muito tempo a nossa saúde, educação, segurança e outros serviços públicos só tiveram piora, dando-nos a ideia que essas despesas foram claramente executadas de forma pouco cuidadosa, para não dizer coisa pior.

Não devemos nos afastar muito do conceito de que não podemos gastar o que não temos. Para chegar a essa conclusão não precisamos pesquisar muito. Basta, a título de exemplo, ver a situação dos Municípios e Estados, que não conseguem nem pagar suas folhas salariais, além de os seus serviços estarem bastante comprometidos, senão, inviabilizados.

Diante disso e lembrando o adágio popular que diz: “doença grave se trata com remédio amargo”, acredito que a tal PEC, apesar de considerar uma medida drástica, vejo que se não é a melhor ou mais perfeita solução é a que vislumbro como fundamentalmente necessária e imediata para que se encontre o equilíbrio das contas públicas e que, no futuro, possamos voltar a investir na melhoria e ampliação dos serviços que venham a trazer efetivos benefícios à população.

HERIBERTO GADÊ

17.11.2016

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