segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ANTES EMPATAR QUE VENCER



O que eu disse, de forma isolada e considerando que vivemos em uma sociedade que transformou a convivência humana em uma verdadeira competição de “vida e morte”, reconheço, é para causar espanto.

Estou ciente de que a competição é elemento básico e natural entre os seres vivos. Todos eles competem para ocupar seus espaços e garantir a sobrevivência. Nós, humanos e pseudo-racionais, deveríamos utilizar esse tal de raciocínio para nos diferenciarmos dos ditos irracionais, mas não estamos fazendo assim. Ao contrário, todo dia é dia de luta, de competição. E fico a me perguntar se essa é a única forma de viver.

Neste momento da minha vida, não acho que a competição entre os seres humanos deva ser tão necessária quanto é na vida irracional/vegetal. A minha frase sobre o empate, na verdade, reflete a essência e a configuração do que tenho pensado ultimamente.

Para que eu possa me fazer entender, preciso reconhecer que todos nós, especialmente as últimas gerações, somos frutos de uma louca “corrida ao dinheiro”. É a transformação do dispensável em artigo de primeira necessidade. As últimas gerações foram formatadas para competir, derrubar seu semelhante a qualquer preço, e acumular cada vez mais, de preferência, retirando o máximo dos seus semelhantes. Em suma, seguir o velho ditado de que “a medida do ter não enche nunca”. É diante disso que aceito o espanto dos meus amigos.

Não quero subverter a formação cultural/social de ninguém, porém gostaria de fazê-los enveredar por um outro vértice do raciocínio. Pensemos em tudo como se fossemos uma equipe de futebol. Enquanto equipe, pretendemos vencer os nossos adversários. Neste caso, queremos que todos os componentes da equipe se saiam igualmente bem. Se isso ocorre, todos empatam entre si. Concordam? Neste caso, o empate é o melhor que pode acontecer.

Quando, em uma equipe, alguém busca notabilizar-se mais que os outros companheiros, existirão vencedores e vencidos. O que ocorrerá é que essa equipe estará fadada ao insucesso, apesar de alguns se acharem, momentaneamente, vencedores. Já, neste caso, a vitória de uns não será melhor que o empate entre eles mesmos.

Numa equipe, o equilíbrio é fator fundamental para seu sucesso. Ninguém pode ser melhor que ninguém, dentro de uma equipe. Todos têm a sua importância e, por isso, equiparam-se entre si, para que se alcance o objetivo do grupo, ou seja, deve existir uma situação de “empate”.

Infelizmente, no ambiente do nosso trabalho, também acontece essa mesma guerra intra-equipes que é, muitas vezes, alimentada por consultores renomados, travestidos de senhores da verdade, e por chefes despreparados. Todos eles fazem apologia à vitória pessoal e individual nem que, para isso, sejam sobrepujados e destruídos aqueles “fracos e despreparados” que estão em seu caminho, independentemente de esses “fracos” estarem dentro da sua própria equipe. A lei passa a ser a de que “os fins justificarão os meios”.

A competição entre os seres humanos os desumaniza, já que destrói a cooperação e a solidariedade, instrumentos fundamentais (estes sim) para uma cordial e humana convivência. Por isso que, ultimamente, tenho preferido empatar.

HERIBERTO GADÊ DE VASCONCELOS

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