domingo, 4 de outubro de 2009

O PROFISSIONALISMO NO FUTEBOL

Lendo o Blog de Marcos Lopes (Logo logo vai faltar bombeiro) e a coluna de Everaldo Lopes (Como Profissionalizar?- Jornal Tribuna do Norte), ambos de 29.07.2009, o que faço diariamente, fruto de bom hábito que adquiri ao longo do tempo, notei que o termo: “profissionalização do futebol” ainda não foi bem digerido e, por isso, gera alguns desencontros.

A coluna tratava exatamente disso: os clubes de futebol de Natal-RN (ABC e América) já são profissionais ou não? Diante disso, decidi apresentar a minha opinião, fruto do trabalho desenvolvido durante alguns anos, das obras que li e do aprendizado que construí durante treinamentos e cursos dos quais participei.

Então vejamos. Para denominar o que é uma atividade desenvolvida com profissionalismo não podemos nos prender, especificamente, ao que significa a palavra “profissional” e suas derivações. Não. Deve-se tomar cuidado para não simplificar demais o termo, de sorte a evitar que o significado da idéia fique, também, simplório e não traduza o que realmente quer se dizer com aquilo.

Se formos nos guiar pela semântica ou pelo real significado da palavra, chegaremos à conclusão de que os nossos principais clubes de futebol do Estado já atuam de forma profissional há bastante tempo, uma vez que os jogadores são assalariados, os técnicos são assalariados, os supervisores também e assim por diante. Porém, a idéia que se quer passar quando se diz que uma instituição atua de forma profissional e não amadoristicamente, é outra bem diferente.

O fato de ter em seus quadros empregados ou, como queiram, profissionais pagos para desempenharem a sua função não faz com que a gestão de um clube seja efetivamente profissional.

Vamos falar mais especificamente dos principais clubes da nossa cidade (ABC e América). Todos já ouviram falar de projetos mirabolantes, tanto de um quanto de outro. No entanto, desafio quem já viu qualquer um desses projetos. Digo isso por entender que um projeto somente existe se estiver registrado no papel. Se não for assim, como irá quantificar ou qualificar o sucesso ou insucesso desse tal projeto? Em suma, vamos entender que não existe projeto virtual, que fica flutuando na cabeça de dirigente. No máximo, existirá uma boa vontade ou uma boa ou má idéia.

Um clube, para atuar de forma profissional, teria de ter plano estratégico de longo prazo, plano de diretrizes anuais e planos operacionais. Sem isso, toda atuação é amadorística, utilizando a inferência pessoal e o histórico de acertos e desacertos, como únicos instrumentos de administração. Existe uma frase, de domínio público que diz: “se você não sabe aonde quer chegar, qualquer lugar serve”.

Agir com profissionalismo é não repetir erros todos os anos. Mesmo tendo conhecimento das dificuldades estruturais, normativas e legais, o amador teima em repetir os mesmos erros. Agir com profissionalismo é planejar, implantar, acompanhar, corrigir e retroalimentar o processo. Dessa forma, minimiza-se o risco de cometer os mesmos erros, todos os anos.

Quem atua de forma profissional, não fica cobrando do torcedor para que este ajude o clube em um momento de dificuldade. Não. Quem é profissional vê o torcedor como um cliente, como outro qualquer, que consome a partir, não somente, dos seus impulsos emocionais, mas principalmente dos seus impulsos racionais. A partida de futebol é um espetáculo e um produto como qualquer outro que necessita de qualidade, imagem, preço e formas de entrega adequadas, para despertar o interesse do cliente.

Agir com profissionalismo não é pedir que conselheiros “abnegados” façam contribuições em dinheiro para ajudar o fechamento do caixa ou para “trazer” esse ou aquele atleta. Não. A administração profissional não dá o passo maior que a perna. Não gasta o que não tem, não consome antes as receitas futuras, sabe com antecedência os custos e as receitas que advirão, segundo estudo criterioso que faz periodicamente.

A emoção não é o sentimento que dirige um executivo de um clube de futebol. Não. Ao contrário, o profissional dirigente atua, essencialmente, com a razão. Todos os seus passos seguem um planejamento já realizado. Ele sabe a direção a seguir e o objetivo a atingir. Sabe que, muitas vezes, tem de quebrar paradigmas, desagradar alguns, para sobreviver e vencer.

Um dirigente profissional não vê o seu concorrente/adversário como um inimigo. Nunca quer destruí-lo. Não. O profissionalismo ensina que o seu concorrente precisa viver para gerar e ampliar mercado. Existe um ditado popular que diz: “quanto mais cabra, mais cabrito”. Não é uma questão de ser o melhor em campo. Precisa ser o melhor fora de campo, para que isso reflita positivamente dentro do campo.

Fazer com que o clube sirva aos seus interesses pessoais, seja para atender necessidades eleitorais, de vaidade ou de cunho financeiro, não é a postura de um verdadeiro dirigente profissional. Não. Um profissional vê a instituição para a qual trabalha, como uma pessoa independente que pretende se fortalecer, crescer e alcançar objetivos. Servir-se dela, seja de que forma for, é um erro e uma postura amadorística.

Dito isso, deixo para vocês a análise e a avaliação sobre a forma como os nossos clubes são dirigidos. Eles são realmente profissionais ou amadores?

HERIBERTO GADÊ DE VASCONCELOS

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