quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PROFECIAS X PROJEÇÕES


A futurologia tem sido uma atividade que vem sendo praticada há muitos anos. Para alguns, é uma das mais antigas atividades profissionais de que se tem notícia. Quem não ouviu falar das profecias de Nostradamus? Quantas deram certo? Quais os mecanismos ou informações que embasavam essas previsões?

Essas são perguntas difíceis de responder. Por outro lado, fica uma outra questão: Por que se dá tanto valor aos “profetas”? A resposta que nos vem em primeiro lugar é a de que o homem tem a necessidade premente de conhecer o seu futuro, para que possa enfrentá-lo de forma adequada para cada situação, evitando os caminhos que o levem a conviver com problemas e a repetição dos erros do passado.

No mundo dos negócios se dá o mesmo fenômeno. Os empresários precisam, diante de um mundo agressivamente capitalista, prever acontecimentos antes do seu concorrente o faça, para que consiga tomar decisões acertadas que, no mínimo, evitem o insucesso da sua empresa. Em muitos casos a indecisão ou a decisão incorreta podem ser a diferença entre o lucro e a falência.

Nesse mundo, os “profetas” são profissionais do mercado, normalmente economistas que, a partir de tendências que julgam perceber, estão sempre realizando previsões que, na maioria das vezes não se confirmam. Essa tem sido a máxima neste século. Várias foram as previsões que não se confirmaram e, mesmo assim, continuamos a buscar, a dar valor e a pagar por esse tipo de previsão.

Um dos motivos para tanto insucesso é a necessidade que temos de conhecer como o fato ocorrerá, nos seus mínimos detalhes, daqui a dez, quinze ou vinte anos. Nem com várias toneladas de informações nós conseguiremos traçar, matematicamente, como o futuro acontecerá. Se assim agirmos, estaremos sendo levianos. Essencialmente, a previsão depende do resultado do comportamento humano que, sabemos, obedece a estímulos diversos e imprevisíveis que se interponham durante todo o tempo. Desconhecer esse aspecto é estar fadado ao erro.

Se assim não acontecesse, vários eventos históricos não teriam ocorrido. Os dominadores nunca deixariam que os dominados lhes tomassem o poder e vice-versa, o Muro de Berlim nunca teria caído ou, convenhamos, nunca teria sido construído.

Outro fator importante para tantos desencontros é a qualidade da nossa informação. Não se pode iniciar um trabalho de projeção com números imprecisos ou com dados estatísticos falhos e incompletos. No Brasil essa situação tem sido um dos motivadores das falhas nas previsões. Para se ter uma idéia, o resultado do PIB deste ano já foi revisto quase uma dezena de vezes, e nós estamos falando do lapso de 12 meses. Qualquer ação que levasse em conta a projeção inicial, estaria fadada ao erro.

Isso tudo nos leva a crer que a informação como um todo é necessária para a construção de um cenário e dentro dele efetuar alguns exercícios de projeção. A simples utilização de números e equações não garante o sucesso da previsão, uma vez que a constante mutação do mundo está a exigir a correção de rumos dentro dos cenários que são elaborados.

Exemplo disso foram as previsões sobre a rápida exaustão das reservas minerais do planeta, especialmente as ligadas ao combustível. Neste caso o cenário estava correto e era lógico que recursos não renováveis viessem a terminar um dia. A falha estava em não prever que novas jazidas seriam encontradas, as máquinas consumiriam cada vez menos, novas formas de energia seriam desenvolvidas, fatos que derrubaram a previsão de não termos petróleo na década de 90.

Então, a que tudo isso nos remete? É claro que não se pode prescindir da projeção, uma vez que ela que nos antecipa o futuro para que possamos ou nos preparar para ele. O importante é que essa previsão seja feita a partir de informações bem montadas, selecionadas e prestadas com toda a agilidade que a conturbação e a velocidade dos acontecimentos do mundo moderno estão a exigir e sempre com a consciência do elevado risco do erro.

Outro ponto de destaque é a correção da previsão. Projetar por si só em um momento estático, mesmo utilizando informação que foram, em um determinado momento, bem montadas, não garante que a empresa estará bem informada sobre as tendências de futuro. O que vale mesmo é a constância da informação, passada de forma correta e em tempo hábil. A informação tem de ser dinâmica como é dinâmico o comportamento humano, pois é principalmente esse comportamento que interfere nas mudanças do mundo.

Resumindo, tão ou mais importante que montar cenários de futuro, é ter capacidade para detectar as mudanças de cenário e agilidade suficiente para corrigir rumos e realinhando, constantemente, o timão da empresa, na direção do objetivo traçado. Cabe a sugestão: ao entrar no túnel do tempo, em direção ao futuro, não esqueça o passado, mas, principalmente, não tire os olhos do presente.

Heriberto Gadê de Vasconcelos
14.10.2009

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