terça-feira, 13 de outubro de 2009

É LÓGICO QUE O FUTEBOL TEM LÓGICA

Em oportunidades outras tenho comentado sobre o planejamento no futebol e a forma amadora como nossos dirigentes conduzem os clubes. Prendo-me nesse assunto por considerar o futebol uma atividade meramente empresarial como outra qualquer, não obstante o forte componente emocional que envolve o futebol em si. De outra parte, tudo gira mesmo em torno do dinheiro.


Desta vez volto a tratar do assunto de uma ótica diferente, ou seja, apresentando um cenário que teria ou terá de ser avaliado pelos executivos de clubes de futebol, com mais profundidade, pelo menos aqueles dos estados do Nordeste brasileiro e especialmente os de situação econômica mais desfavorecida.


Vejam os senhores a situação da tabela do campeonato brasileiro, tanto da Série A quanto da Série B. Se verificarmos a posição atual desses campeonatos poderemos constatar que os clubes do Nordeste estão muito bem representados nas respectivas zonas de rebaixamento.


Na Série A, dos quatro clubes na terrível zona dois são nordestinos de Pernambuco (Sport e Náutico). Somente o Vitória da Bahia está escapando. Já na Série B, dos oito últimos, 5 são do Nordeste, e desses, 3 estão na zona de rebaixamento. Somente um, o Ceará, de Fortaleza/CE, está escapando na honrosa quarta colocação, posição em que, pelo histórico, tenho certeza, não conseguirá se manter por muito tempo.


Vocês poderiam perguntar: E aí? O que você quer dizer com isso? Eu respondo: O futebol tem uma íntima ligação com a capacidade econômica da região, como, repito, qualquer outra atividade econômica. É isso que os executivos do futebol precisam ter em mente. Claro que não é só isso, mas o poderio econômico contribui para a formação e desempenho das equipes de futebol. O sucesso de uma atividade econômica está na capacidade e na política de investimento nesse setor.


Dito assim parece que estou dizendo o óbvio. Porém as pessoas são levadas a pensar que “David” sempre vence “Golias” e que os clubes do Nordeste têm a capacidade de integrar o grupo de elite do futebol brasileiro e, pasmem, vencer a competição. Esse é um posicionamento meramente emocional e totalmente desprovido de uma análise, nem que seja preliminar, do que tem acontecido no futebol brasileiro e mundial.


Outras pessoas poderiam indagar que o futebol brasileiro sempre se destacou frente aos países de poderio econômico superior. É verdade. No entanto, a partir do momento em que esses países resolveram investir no futebol, o futebol brasileiro deixou de ser o melhor do mundo. Hoje o melhor futebol do mundo é praticado na Inglaterra, na Espanha, na Itália e até na Turquia. Nós, aqui, nos limitamos a ter uma das melhores seleções de futebol do mundo. Só isso.


Vou apresentar para vocês alguns levantamentos preliminares que fiz, acerca dos resultados finais dos campeonatos brasileiros das Séries A e B, a partir do ano de 2001, ano em que deixaram de acontecer aquelas famigeradas “viradas de mesa”. O resultado vai ao encontro do que digo. Notem que, na Série A, estão somente três clubes do Nordeste, um da Bahia e dois de Pernambuco, Estados que respondem sozinhos por 49% do PIB nordestino. Mais uma coincidência.


Nesses nove anos de Série A, as regiões sul e sudeste do país sempre tiveram, em média, algo em torno de 81% dos clubes que participaram dessas edições. Por coincidência, os PIB dessas regiões, somados, correspondem a 73% do PIB brasileiro. Será que é só coincidência? Vamos a um segundo dado: A região Nordeste participa com 13% do PIB nacional e tem tido, em média, nesses nove anos, 11% dos clubes participantes da Série (atualmente está com 15% de participação). Vejam a tabela abaixo:


REGIÕES              Part. % PIB   Clubes na “A” *    Part. % na “A”*
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SUL SUDESTE         73%                    18                            81%
NORDESTE              13%                     2                            11%
C. OESTE                  9%                      1                              6%
NORTE                     5%                       0                             2%
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Média de participação no período de 2001 a 2009
Fontes: Wikipédia e www.bolanaarea.com


Como podem ver, há certa sintonia entre potencial econômico e o número de clubes de futebol na Série A.


Na Série B, precisamos fazer uma avaliação mais cuidadosa. Se observarmos os números de clubes das Séries A, B e C vamos constatar que existe uma gradual redução do número de clubes do sul e sudeste e uma elevação no número de clubes das demais regiões, como demonstrado a seguir:


REGIÕES      Clubes na   Clubes na   Clubes na   Evolução   Evolução
                        Série A(*)    Série B(*)    Série C(*)   A>B           A>C
-----------------------------------------------------------------------------------------
Sul/Sudeste      16                 11                 8                -5               -8
Nordeste             3                  6                  6               +3              +3
C.Oeste               1                  3                  3               +2               +2
Norte                  0                   0                  3               +0               +3
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(*) – Posição atual
Fonte: www.bolanaarea.com


O que acontece aí? Esse quadro pode ser explicado. Na medida em que os principais clubes das regiões sul e sudeste se envolvem nas Séries, em especial a Série A, restam, para ocupar as demais posições, as agremiações de segunda e terceira linhas, cuja condição passa a se assemelhar aos clubes das demais regiões. Com isso, a concorrência fica mais igual e são criadas condições de acesso aos clubes do Nordeste, especialmente.


Em razão disso, não encontraremos, na Série B, uma situação tão clara como se vê na Série A, bem como na Série C, que tem uma metodologia de competição regionalizada. No entanto, os números não se afastam tanto da realidade de vinculação econômica. Com exceção do Nordeste, que tem uma participação percentual acima do imaginado, as demais regiões guardam certa compatibilidade com o potencial econômico.


Mesmo assim, vê-se que, se confirmada a tendência de rebaixamento das rodadas deste primeiro turno, seriam menos três clubes nordestinos na Série B do próximo ano, não considerada a possibilidade de acesso da Série C que, na melhor das hipóteses, poderá promover o acesso de no máximo dois clubes do Nordeste (Icasa-CE e/ou Asa-AL).


REGIÕES              Part. % PIB   Clubes na “B”(*)   Part. % na “B”(*)
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SUL SUDESTE           73%                  11                             55%
NORDESTE                 13%                   6                             21%
CENTRO OESTE          9%                   3                             11%
NORTE                          5%                   0                               0%
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(*) – Posição atual
Fontes: Wikipédia e www.bolanaarea.com


Finalmente, o que poderemos concluir com tudo isso? Ora, se os executivos do nosso futebol planejassem, teriam trabalhado mais aprofundadamente os dados existentes no nosso futebol, montando um planejamento adequado. Sem isso eles ficam navegando às cegas e vão dando passos maiores que as pernas, na ilusão das suas próprias ilusões egoístas, contratando jogadores com salários incompatíveis com suas realidades, trazendo, cedo ou tarde, a completa desestruturação econômica e financeira dos clubes que representam.


Se nos prendermos no futebol do Nordeste, veremos dirigentes com enormes dificuldades para fechar seus caixas, gerando dívida sobre dívida, em razão de continuarem assumindo compromissos acima da capacidade de seus clubes gerarem retorno, muitas vezes para alimentar suas próprias vaidades e sem nenhum critério empresarial. Ainda tem aqueles que ficam exigindo a participação de patrocinadores, como se patrocinar fosse uma obrigação e não um negócio.


Minha avó, no alto da sua doce sabedoria diria: “meu filho, baixe a bola” ou “devagar com o andor, que o santo é de barro”. Tenho dito. Aliás, quem disse foi vovó.




HERIBERTO GADÊ DE VASCONCELOS
Natal (RN), 17.08.2009

Um comentário:

  1. não tenho como não concordar com você é uma verdade sem contar com o sofrimento dos seus torcedores que iludidos acham que a cada ano que começa vai ver o seu time brilhar. muintos sem saber do amadorismo dos dirigentes muintos deles querendo apenas aparecer na midia sem a minima noção do lado empresarial. e com os mesmos discursos, somos abnegados.

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