segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CARIDADE COM O DINHEIRO ALHEIO

Desde que me entendo de gente que, quando escuto falar de futebol, ouço aquela velha cantilena: “a evasão de renda é que acaba com o futebol”. O que espanta, ainda mais, é o fato de que são os dirigentes dos clubes e das federações que mais reclamam. Ora, ninguém é inocente. Não preciso citar aqui o porquê de isso tudo acontecer. É tão cristalino que dói.

Prefiro não tocar no assunto “evasão”. Existe outro problema que, esse sim, é trágico para os clubes de futebol: o “caronismo”. Essa tem sido a marca daqueles que comandam os órgãos que administram os estádios públicos e dos dirigentes das federações. Sei que não é idéia deles. Eles somente copiam aqueles que se utilizam espertamente desses artifícios.

Vejam o caso da gratuidade dos idosos. Vendo de longe alguns hão de pensar que se tratou de uma medida humanitária, bondosa e reconhecedora daqueles que criaram a lei e a aprovaram. É muita inocência dessas pobres pessoas. Ora, o que eles fizeram foi praticar a caridade com o dinheiro alheio. Quando, por exemplo, um idoso utiliza gratuitamente o ônibus, ele está contribuindo para elevar o preço da passagem e os demais usuários pagam a conta. Isso é lógico, mas pouca gente nota.

Não preciso nem me estender dizendo que se a aposentadoria daquele idoso fosse justa ele não precisaria dessa “esmola”. É o poder público fazendo com que os outros paguem pela sua incompetência. Seria engraçado ver um grande empresário idoso andando gratuitamente de ônibus.

Do mesmo modo ocorre em um jogo de futebol. Precisamos nos habituar a chamar de “espetáculo de futebol”, porque é exatamente o que uma partida de futebol profissional é: um espetáculo, onde artistas se apresentam para o entretenimento de um grupo de pessoas, que estão dispostas a pagar para vê-los ação.

Quando fico sabendo que estão discutindo a gratuidade, para alguns privilegiados, a ser praticada nos espetáculos de futebol, me pergunto se não seria melhor inverter a ordem das coisas e fazer com que aquele que não pode pagar o ingresso é que fosse beneficiário da gratuidade. Pelo menos, nesse caso, haveria uma justificativa plausível.

Para mim, somente os artistas que se apresentarão e os profissionais no real exercício dos seus trabalhos naquele espetáculo, é que teriam direito à gratuidade. Atletas veteranos ou não, dirigentes de outros clubes (alheios àquele espetáculo), autoridades de qualquer natureza (que não no exercício da sua atividade) e crianças (exceto as de colo) não deveriam ter direito à gratuidade.

Basta olhar em volta e perceber que esse negócio gratuidade é um completo absurdo. Quem for contrário, deveria abrir mão do seu salário ou qualquer renda e passar a trabalhar de graça, ou seja, praticando a gratuidade completa. Quem fizer isso, merecerá o meu respeito.

Falo isso pensando como seria engraçado ver um representante de cada grupamento que citei, no aeroporto, tentando convencer os funcionários de uma empresa aérea de que teria direito de viajar de graça. Ora, não me façam rir.

Por que fazem tão pouco caso do futebol?

HERIBERTO GADÊ DE VASCONCELOS

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